Entrevista de la UNESP al Dr. Andrés Serbin – Brasil poderia liderar agenda regional na América Latina

14 mayo 2013
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Professor da Universidade Central da Venezuela, Andrés Serbin é presidente-executivo da Cries (Coordenadoria Regional de Pesquisas Econômicas e Sociais), uma rede que congrega mais de 70 centros de pesquisa, acadêmicos, ONGs, fundações e associações de profissionais da América Latina e Caribe, com sede na Argentina. No Brasil, Serbin mantém intensa parceria com a UNESP. Esteve recentemente no Encontro Internacional sobre participação e políticas públicas promovido pela Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara. Na ocasião visitou a sede do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais (IPPRI) da Unesp, em São Paulo (SP), onde concedeu esta entrevista em que aborda o panorama da América Latina.

IPPRI – Como o senhor observa as relações entre Estado e sociedade civil na América Latina?

Serbin – Os progressistas chegaram ao poder na América Latina com o apoio dos movimentos sociais. Neste sentido, esses movimentos se sentiram representados, deixando de ser anti-governo. O cidadão participa em função dos temas ou porque há uma crise geral que mobiliza todos os segmentos. Atualmente, observa-se claramente na agenda regional um processo de desmobilização da sociedade civil. Nesse momento existem focos dessa agenda onde se pode observar uma participação mais ativa. Um deles questiona a posição de alguns governos da América Latina frente ao desmantelamento do sistema interamericano de direitos humanos. São os mesmo que apoiaram os governos de esquerda que chegaram ao poder na década de 1980. É interessante observar essa espécie de retorno.

IPPRI – Qual a percepção da América Latina sobre o Brasil, único país do continente membro dos BRICs (grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia e China, países com economias emergentes).

Serbin – Todo mundo reconhece o destaque do Brasil nesse marco da reconfiguração regional. Reconhece também suas conquistas econômicas e sociais nos últimos anos. Mas o que a América Latina se pergunta é quando o Brasil vai se tornar um líder mais pró-ativo em termos regionais. O Brasil tem uma agenda global muito clara. Mas exclui dela seus sócios sul-americanos. A diplomacia brasileira é muito cautelosa. Em muitos momentos, a presidência é muito mais pró-ativa do que o Itamarati. Por outro lado, em nosso processo de regionalismo predominam os interesses dos países membros. A soberania nacional é intocável. Os avanços ocorrem em função dos interesses.

 IPPRI – Entre outros escritos, o sr. é autor do livro “Chávez, Venezuela e a reconfiguração política da América Latina e do Caribe. O que mudou nessas regiões depois de 1998, quando o militar Hugo Chávez foi eleito pela primeira vez?

Serbin – Creio que a grande contribuição de Chávez e que vai para a história é que ele foi um importante agente de uma agenda social. Ele trabalhou para dar visibilidade a populações historicamente excluídas. Nessa direção creio que há uma coincidência entre os partidos de esquerda que estão nos governos. Essa é a reconfiguração de fundo da América Latina. Apesar de continuarmos uma região desigual, os que antes estavam à margem da agenda se tornaram visíveis, participativos e incluídos nas políticas em desenvolvimento.

IPPRI – O sr. acredita que essa inclusão baseada em assistencialismo pode gerar distorções políticas?

Serbin – Vivemos em um sistema político que tem as suas perversões. Nem sempre a inclusão e a participação são virtuosas. Muitas vezes configuram o que deveria ser a democracia e a luta para erradicação da pobreza e desigualdade. Em diversas ocasiões, as políticas sociais são utilizadas com um critério assistencialista. Se por um lado inclui pela primeira vez uma quantidade de gente excluída, por outro essas pessoas são manipuladas de forma que as benfeitorias que recebem geram votos aos doadores, configurando clientelismo político. Temos muitos exemplos na América Latina.

IPPRI – Como avançar nesse jogo?

Serbin – É preciso que os incluídos formem-se como cidadãos. A cidadania não se faz em curto prazo. Estamos nisso desde a queda dos regimes militares e da reconstrução da democracia. Ainda que essa democracia seja imperfeita, esse é o menos imperfeito de todos os sistemas.

IPPRI – O sr. acredita que essa reconfiguração protagonizada por Hugo Chávez se sustenta após a morte dele?

Serbin –Não sei se no caso da ALBA (Alternativa Bolivariana das Américas), que sempre foi financiada pelo petróleo da Venezuela e isso pode mudar. Mas a Unasul (União das Nações Sul-americanas) está encaminhada. O problema maior é saber se Nicolás Maduro poderá continuar com um projeto de socialismo de século XXI, que somente responde a metade do país ou se necessariamente vai ter de entrar em um diálogo com a outra metade. Evidentemente, não se trata de uma decisão exclusiva de Maduro, nem de Henrique Caprilles, o opositor. Isso depende de muitos fatores internos e das respectivas forças políticas. Maduro é uma figura politicamente débil dentro do chavismo, onde há muitos fatores de pressão sobre ele. Por outro lado, Caprilles, também não representa uma força homogênea. Mas é jovem e tem pela frente muitos anos de vida política. Caprilles tem experiência e essa é a grande diferença para Maduro, que não estava na gestão pública.

IPPRI – O chavismo seria possível sem a estatização da mídia e da indústria de petróleo?

Serbin – O fenômeno Chávez é anterior à estatização da PDVSA (Petróleo de Venezuela S/A) e ao controle da mídia. Esse fenômeno é uma resposta à anti-política, dada por aqueles que estavam cansados da política tradicional que havia na Venezuela naquele momento. Havia um cansaço da corrupção, da falta de capacidade de gestão e, além disso, a Venezuela sofria com queda no preço do petróleo. Quando em 1998 Chávez aprovou uma nova constituição, ela respondeu às expectativas da população. O que ocorre é que depois disso, apesar das eleições e dos plebiscitos, ele assumiu um modelo mais autoritário e foi desenvolvendo um processo de controle das instituições.

Fuente: http://www.unesp.br/portal#!/noticia/10902/brasil-poderia-liderar-agenda-regional-na-america-latina/