Gilberto Rodrigues – Genocídio na Argentina

3 octubre 2016

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Publicado em: http://blogs.atribuna.com.br/analiseinternacional/genocidio-na-argentina/

As ditaduras militares na América Latina aniquilaram milhares de pessoas em nome da ordem, do combate ao comunismo e ao “terrorismo”.  Processos recentes de memória, verdade e justiça mostram que regimes autoritários cometeram crimes de lesa humanidade contra civis. Há uma tese de que se praticou genocídio na Argentina. O debate e a polêmica sobre as atrocidades maciças praticadas por regimes militares segue aberto em muitos países latino-americanos.

Na Argentina, as leis de anistia e indulto foram anuladas e muitas autoridades foram condenadas – incluindo o ex-Presidente Jorge Videla, morto na prisão. Mas ainda há dezenas de processos contra criminosos da ditadura tramitando na Justiça argentina. Além disso, há uma campanha permanente para identificar filhos de desaparecidos adotados ilegalmente.

Daniel Feirstein, Professor da Universidade de Buenos Aires, autor do livro “El genocídio como practica social (2007)” tem contribuído para lançar um outro olhar sobre os fatos da ditadura argentina. Feirstein se ampara em documentação dos militares e em inovadora interpretação teórica para afirmar que houve pratica de genocídio, e não apenas de crimes de lesa humanidade contra argentinos. Essa tese ajuda a desmistificar a ideia, defendida pelos militares, de que houve uma “guerra suja” contra subversivos.

O Museu da ESMA (Escola da Marinha), em Buenos Aires, onde funcionou o maior centro de tortura e desaparecimento forçado de pessoas da Argentina, tem auxiliado pesquisadores e a sociedade civil a conhecer e entender melhor o que aconteceu naquele período.  O Museu existe graças à luta da sociedade civil, que, por meio de medida judicial, impediu que o ex-Presidente Carlos Menem demolisse todo o complexo da ESMA para fazer um monumento para a “reconciliação nacional”. O governo de Nestor Kirchner tomou a iniciativa de transformar a ESMA em “Espaço Memória e Direitos Humanos”, reconstruindo o cenário da época, a partir de relatos de sobreviventes.

O senso comum diz que a História é fundamental para a identidade e a formação de um povo, porém muitos querem deturpar ou esconder a História de períodos autoritários, como se fosse um pesadelo a ser esquecido. Mas só o conhecimento e a compreensão dos fatos históricos garantem a prevenção contra novas atrocidades; não a sua negação.

(O autor participou como convidado do Seminário “El rol de la sociedad civil en la prevencíón de violaciones masivas de los derechos humanos en América Latina y el Caribe”, realizado em Buenos Aires, 26-28 de setembro de 2016, co-organizado pela Coordinadora Regional de Investigaciones Econõmicas y Sociales (CRIES) e pela Stanley Foundation, com apoio da Presidência da República Argentina e do Escritório de Prevenção do Genocídio da ONU)