Gilberto Rodrigues – 11/9 depois de dez anos: um balanço – Análise Internacional

31 julio 2011

DA CIDADE DO MÉXICO – Os atentados terroristas de 11 de setembro completam dez anos nesse ano. Seu impacto na vida dos países e das pessoas tornou-se uma realidade, não pelo atentado em si, mas pela reação dos EUA e de sua mobilização global pela proclamada guerra ao terror. Novas leis americanas; tratados internacionais e resoluções de organizações internacionais foram aprovadas visando aumentar a segurança contra o terrorismo; todo esse movimento gerou a chamada securitização das relações internacionais, implicando em supressão de direitos e violação e direitos humanos.

Fuente de los Coyotes, Barrio de Coyoacán, Mexico.

Para debater esse tema, com uma perspectiva regional, nas Américas, um grupo de acadêmicos da Alemanha, Argentina, Brasil, Cuba, EUA, México e Países Baixos se reuniu na Casa COLEF, uma bela construção do século 19,  no Bairro Histórico de Coyoacán, na cidade do México, sob a organização da Fundação CASEDE, do El Colegio de la Frontera Norte e da Coordenadora de Estudos Econômicos e Sociais (CRIES), com apoio da Fundação Ford.  O anfitrião do evento, Prof.Raúl Benitez, da UNAM, é um conhecido e respeitado especialista nos temas de geopolítica e segurança.

Um resumo do rico debate realizado, indicou alguns tópicos importantes sobre esse balanço de dez anos pós 11/9: 1) Os EUA perderam influência na América Latina e Caribe; 2) O Brasil assumiu a liderança regional e, através da criação da UNASUL, em parceria com a Venezuela, estabeleceu um Conselho de Defesa com uma nova agenda para lidar com a segurança e a paz regional, sem a influência dos EUA; 3) O principal tema de segurança regional (Latino-americana) não é o combate ao terrrismo, mas o desenvolvimento econômico, a proteção dos recursos naturais e energéticos e a prevenção e combate ao crime organizado transnacional.

Outro aspecto interessante é o impacto da crise econômica na política externa americana em relação à América Latina e Caribe. Obama vem tentando melhorar as relações dos EUA com a região, muito deterioradas pelas ações unilaterais do governo Bush. Mas dada a crise fiscal americana, o país não dispõem de recursos para investir nesse campo, nem agora nem no futuro; ao mesmo tempo o Congresso Americano é cada vez mais hostil à política de boa vizinhança empreendida por Obama. Nesse cenário, a China ganha espaço, primeiro nas relações comercais, e consequentemente nas relações políticas.

As novas formas de lidar com os crimes contra a humanidade, genocídio, crimes de guerra e limpeza étnica, no âmbito do Princípio da responsabilidade de proteger (RdP), é motivo de divergências e de receios por parte de alguns, sobretudo dos cubanos, tendo em vista a falta de parâmetros claros para intervir. Mas há consenso de que faltam colocar balizas nos meios de ação extrema e de que a prevenção é o ponto central a ser considerado.

Se a América Latina e o Caribe é uma região relativamente pacífica em comparação a outras, há indicações de que conflitos étnicos e étnico-políticos podem ser potencialmente perigosos, envolvendo temas culturais e religiosos.

Perguntas deixadas para reflexão: 1) Até que ponto os EUA deixarão de ser uma potência relevante na região? 2) Em que medida a China ganhará mais espaço e e tornará uma nova ameaça hegemômica?  3) Como o Brasil exercerá sua liderança assumindo novas responsabilidades sem se tornar um novo poder hegêmonico? 4) Como coordenar as agendas da UNASUL, da OEA e da própria ONU, para dar eficácia à cooperação necessária nos temas de segurança regional, que incluem as políticas de prevenção /combate ao narcotráfico, trafico de pessoas, de armas, degradação ambiental, epidemias, violação massiva de direitos humanos e terrorismo? 5) Como garantir a participação da sociedade civil em temas de segurança, a partir de um conceito de segurança humana, e não com base nos interesses apenas do Estado?

Como se vê, a reflexão dos dez anos dos ataques de 11/9 propõe uma agenda politicamente desafiadora e tecnicamente complexa, para os próximos anos nas Américas.

Fuente: http://atdigital.com.br/gilberto/